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Opinião – O Brasil Parou - Dr. Irineu Grinberg


O Brasil parou. Parou porquê?

Parou porque um grupo de profissionais, asfixiados trabalho quase insano e muito pouco retorno, cruzou os braços, descruzando-os apenas para coagir os demais colegas a estacionar também seus caminhões. A variação cambial aliada à alta absurda do preço do petróleo fizeram os combustíveis inconsumíveis.

Desabastecimento total, sem gêneros de primeira necessidade, sem combustíveis. Milhões de litros de leite descartados por falta de transporte e, por consequência, sem industrialização. Uma quantidade incalculável de pintos, frangos e porcos morreram de fome, ou foram sacrificados. O pão desapareceu. Frutas, verduras e outros itens apodreceram. Hospitais suspenderam atendimentos e cancelaram cirurgias eletivas. Medicamentos e insumos da mais alta importância na área da saúde ficaram na estrada.

Catástrofe que tinha histórico anunciado. Um dia o país optou pelo transporte rodoviário. Quem lembra da frase “governar é abrir estradas” - lema do Presidente Washington Luiz, deposto em 1930 por golpe de estado. A origem das empreiteiras seria daquela época?

Àquela ocasião já existia no país uma malha ferroviária razoável bem como transporte marítimo e fluvial. Optou-se por rodovias. Hoje temos muito menos ferrovias e transporte por água totalmente deficiente. Restaram rodovias, muitas em estado precário, sem conservação e sem novos investimentos. A resultante é traduzida em muitas mortes, inválidos e sequelados.

Os caminhoneiros conseguiram parar o país. E o farão novamente caso o governo central e o gabinete de crise continuarem apresentando propostas inexequíveis de valores de fretes e combustíveis, voltando atrás a todo o momento.

É de se esperar que um acontecimento desta natureza ative o pensamento de outros segmentos profissionais, que também sofrem com altos investimentos, sem existirem remunerações compensatórias. As primeiras manifestações aparecem de imediato nos milhares de grupos de discussões por WhatsApp. Com os grupos ligados às Análises Clínicas não tem sido diferente:

- Temos que proceder da mesma forma que os caminhoneiros. Não temos outra solução!

Realismo e cabeça fria em primeiro lugar: Conseguiríamos parar o País?

As corporações do setor laboratorial, aquelas que oferecem ações em bolsa de valores, que necessitam dar satisfações e dividendos aos seus acionistas acompanhariam movimento similar? Haveriam acordos entre as profissões habilitadas ao exercício das análises clínicas? Qual seria a atitude dos “colegas” que enxergam apenas concorrências em detrimento de parcerias, e ficam no aguardo um momento como este para levar alguma vantagem?

Nossa atividade, mesmo com todo seu crescimento técnico e científico, bem como reconhecimento da sua importância no diagnóstico clínico não possui a capacidade de enfrentar esses questionamentos.

É do nosso dever continuar pensando em soluções.

Elas existem.

Irineu Grinberg

Ex-Presidente da SBAC

Diretor em Lab-Farm Consult

irineugrinberg@gmail.com

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