Conhecer e saber diferenciar conceitos ajuda a tomar melhores decisões na gestão de qualquer negócio. E é importante lembrar que o laboratório, assim como qualquer empresa, interage com o meio, prestando serviços e sendo remunerado por eles. Assim, o resultado final depende basicamente das entradas e saídas de caixa, e alocá-las corretamente na análise faz toda a diferença. É por isso que nos ocuparemos hoje dos diversos conceitos que diferenciam os gastos do laboratório.
Gasto é um termo abrangente, que se refere ao esforço da empresa visando a aquisição de bens e serviços. Não necessariamente é um desembolso, que é o efetivo pagamento do bem adquirido ou serviço prestado. Os gastos podem ser classificados entre custos e despesas, além de investimentos. Essa separação é importante, porque permite verificar o custo do produto ou serviço, e as despesas para manter a empresa funcionando. Esse entendimento é essencial, porque separa os gastos em dois grandes grupos:
Aqueles que são utilizados na atividade fim da empresa. No caso do laboratório, são os custos incorridos na produção do exame. Sem esses gastos, não é possível realizar um exame;
Aqueles que dão suporte à atividade fim da empresa, que lhe permitem gerar receita, mas que não são requeridos para a realização de um exame.
Conceitos importantes da contabilidade, custos e despesas frequentemente são confundidos, porque ambos estão relacionados com a saída de recursos da empresa. Para facilitar o entendimento, inicialmente devemos considerar algumas características inerentes a qualquer empresa, para depois trazermos para a realidade do laboratório. Assim ficará mais fácil entender a diferença entre custo e despesa, bem como classificá-los de acordo com a sua natureza.
Custos são gastos diretamente relacionados à aquisição de bens utilizados na produção de outros bens ou na prestação de serviços. No caso dos laboratórios clínicos, são aqueles utilizados na realização dos exames, ou seja, relacionados ao processo produtivo. Na apuração do resultado através da DRE (Demonstrativo de Resultado do Exercício) por regime de competência, o custo é retirado da receita líquida, dando como resultado o lucro bruto. É daí que extraímos a margem de contribuição de cada exame.
É importante salientar que o custo é apurado através de um sistema de custeio, escolhido de acordo com a característica da empresa. Para cada exame é calculado o seu custo, e o custo que entra no DRE é o resultado da multiplicação de cada custo pela quantidade de exames produzida. O custo total mensal NÃO é o gasto mensal com insumos requeridos para a realização do exame, é a soma de cada custo individual multiplicado pelo respectivo número de cada exame.
São exemplos de custos no laboratório, que devem entrar no cálculo de custo de cada exame:
Reagentes;
Descartáveis;
Manutenção de equipamentos;
Mão de obra (específica para a realização de exames);
Controles;
Material de escritório.
Já as despesas são gastos consumidos pela estrutura da empresa, que têm como objetivo a obtenção de receitas. São previsíveis e orçadas, estando relacionadas a um período e não ao processo produtivo. Na DRE simplificada, a subtração das despesas do lucro bruto gera o lucro líquido.
São exemplos de despesas no laboratório:
Aluguel;
Salários não relacionados diretamente com a produção;
Agência de marketing;
Energia elétrica;
Água e esgoto;
Material de limpeza.
Os custos podem ainda ser classificados em dois tipos, dependendo se estão relacionados diretamente com o exame ou com o volume de exames realizados:
Custos Relacionados com o exame:
Custos Diretos
São aqueles facilmente apropriados aos exames. Como exemplo, nos laboratórios clínicos, são os custos relacionados a reagentes de bioquímica;
Custos Indiretos
Não podem ser apropriados diretamente aos exames, por isso precisam de parâmetros previamente estabelecidos para serem apropriados, demandando alguma forma de rateio. O material para coleta de sangue se encaixa perfeitamente como exemplo de custo indireto.
Custos relacionados ao volume de exames:
Custos Fixos
São aqueles que em determinado período e capacidade instalada, não variam proporcionalmente ao volume de exames realizados. Um exemplo é o custo de manutenção preventiva dos equipamentos. Os custos fixos não são necessariamente no mesmo valor todos os meses, eles variam sem acompanhar diretamente a variação do volume de atividade;
Custos Variáveis
Variam em relação ao volume de exames realizados. Os custos diretos são também custos variáveis.
Essas formas de classificação, de acordo com os exames ou volumes de exames, não são excludentes. Um determinado gasto pode ser incluído em mais de uma categoria. Por exemplo, a manutenção preventiva do equipamento de bioquímica é um custo indireto e fixo, enquanto o reagente da glicose é um custo direto e variável.
Gestão de Custos e Despesas
Saber diferenciar custos e despesas tem forte impacto na gestão do laboratório, principalmente no planejamento orçamentário. Quando planejamos o orçamento de custos e despesas, essa correta divisão promove forte ganho operacional, porque permite o rigoroso controle dos processos, identificação de gargalos, desperdícios e retrabalhos. E isso dimensiona corretamente a estrutura do laboratório, compatibilizando-o com o volume de exames realizados, e evitando gastos desnecessários.
Além disso, o controle de custos permite, ainda, prever a margem de lucro das operações. Assim, o laboratório consegue dimensionar sua precificação, sempre com atenção ao preço de mercado, além de analisar individualmente a rentabilidade de cada convênio.
A atenção na classificação de custos e despesas, seu correto dimensionamento, e as análises de precificação e de rentabilidade dos convênios, são os primeiros passos para transformar seu laboratório numa empresa rentável no longo prazo.
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Marcelo Milagres é farmacêutico-bioquímico pela Universidade Federal de Ouro Preto. MBA em Gestão Empresarial e especializando em Mercado Financeiro e de Capitais. É sócio-proprietário do Laboratório Rocha Milagres. É secretário da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas - Regional - MG, diretor assistente da Central ACB - Análises Clínicas Brasil. Integra uma Comissão de Ética do Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais.
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