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A Macroeconomia no Laboratório por Marcelo Milagres



Uma boa gestão de recursos depende em grande parte de conhecer os conceitos básicos de macroeconomia. A avaliação de suas tendências, junto com o conhecimento de novas tecnologias, permite o perfeito entendimento do comportamento do setor, embasando decisões que afetam a qualidade e a rentabilidade do laboratório.


A macroeconomia nada mais é do que uma divisão da ciência econômica que estuda o comportamento de variáveis como inflação, desemprego, taxa de juros, taxa de câmbio e o produto agregado (PIB), com o objetivo de, entendendo suas relações, propor soluções que elevem o bem-estar da sociedade. Mas variáveis macroeconômicas influenciam de forma diversa os setores da economia. Setores de consumo cíclico, como vestuário, hotel e restaurante, por exemplo, estão muito mais intimamente relacionados à atividade econômica, ou seja, se a economia vai bem, esses setores também vão bem, e se vai mal, esses setores são os que primeiro sofrem. Já outros setores, como o da saúde, onde se inserem os laboratórios de análises clínicas, são mais resilientes, pois tratam-se de bens inelásticos. Isto é, não são o tipo de produto dos quais o cidadão abre mão imediatamente durante uma crise econômica.


Isso não anula o fato de que o laboratório de análises clínicas é um agente que cria valor, gera renda (lucros e salários), e interage com o governo através da regulamentação e pagamento de impostos. Ele oferece produtos e serviços, e contribui para o bem-estar geral da sociedade. Portanto, está inserido num contexto econômico e sofre sua influência. Por isso, o conhecimento sobre as tendências da economia deve nortear as mais variadas ações estratégicas e operacionais em sua gestão. E quais seriam essas ações? Por exemplo:

Controlar os gastos

A inflação corrói o poder de compra do dinheiro. Períodos de alta da inflação aumentam o preço de insumos e produtos básicos. O gestor precisa estar atento ao movimento da inflação porque ela afeta a saúde econômica do laboratório, o lucro. Assim, deve revisar sua estrutura de custos, visando a diminuição, e até o repasse do aumento dos preços nos exames particulares;


Investir em equipamentos

É um erro acreditar que a desvalorização do Real afeta somente as grandes empresas. Quase toda tecnologia utilizada no laboratório é importada, incluindo insumos e reagentes. Por isso, o gestor precisa estar atento ao movimento do câmbio na hora em que decide comprar um equipamento, principalmente o de mais alto valor. A decisão de compra num momento de câmbio muito desvalorizado pode significar um equipamento bem mais caro. Em 2020, por exemplo, devido à pandemia, o dólar saiu de 4,06 em janeiro para 5,73 em maio, uma valorização de 41,13%. Outro ponto importante na aquisição é quando houver necessidade de financiamento, cabendo ao gestor analisar as possibilidades frente à taxa básica de juros da economia;

Contratar mão de obra

Uma leitura errada do momento da economia, como uma expectativa de aumento de demanda que não se concretize pode gerar gastos demissionais desnecessários mais adiante. A taxa de desemprego no Brasil, por exemplo, é um indicador econômico atrasado, pois o empresário, devido aos altos custos dessa operação, demora a demitir num momento de crise e demora a contratar após a crise. Existem outros indicadores de confiança, que tentam antecipar movimentos de melhora ou piora da economia, e que serão tratados adiante.

Abrir um posto de coleta

Junto com uma profunda análise estratégica relacionada com a expansão e o aumento de receitas, o gestor precisa considerar o custo do capital empregado em novos empreendimentos. Não adianta prever receitas e despesas para identificar possibilidade de lucro sem analisar o custo do capital frente a uma taxa de desconto livre de risco (uma LFT, ou Tesouro Selic, por exemplo).

Dessa forma, para que o gestor de uma empresa possa conhecer, entender e se proteger dos efeitos da crise, é essencial responder perguntas como:

● O que determina a produção agregada de um país?

● Como saber se a economia está expandindo ou retraindo?

● O que causa a inflação?

● Como o governo pode atuar na política econômica para evitar crises ou promover o crescimento do país?

● Como as variáveis macroeconômicas podem afetar o meu negócio?


PRODUÇÃO AGREGADA

Produção agregada é a representação, em valores monetários, de todos os bens e serviços finais (“finais”, aqui, indicando que não são computados os intermediários para evitar dupla contagem) produzidos na economia durante um determinado período. E o PIB, Produto Interno Bruto, é um dos indicadores mais conhecidos da produção agregada.


Vale ressaltar que esta é uma análise realizada sob a ótica da produção, e que existem outras abordagens de análise da produção agregada, como a ótica da renda, que seria a remuneração dos fatores de produção. Como consideramos que os frutos da produção final objetivam a remuneração dos fatores de produção, não existe diferença entre produto agregado e renda agregada.

Já sob a ótica da demanda, uma terceira forma de abordagem, fica ainda mais fácil de compreender, se considerarmos que toda a produção visa atender uma demanda. Ou seja, a demanda agregada é igual ao produto agregado que é igual à renda agregada. É representada pela soma do consumo das famílias, investimentos (também chamados de Formação Bruta de Capital Fixo, FBCF), gastos do governo e exportações líquidas das importações. Veja a fórmula abaixo, sendo Y a demanda agregada, C o consumo das famílias, I os investimentos, G os gastos do governo, X as exportações, e M, as importações:

Y = C + I + G + X - M

É possível conhecer a contribuição de cada fator para o desempenho do PIB. Quando estão gastando, a economia tende a crescer, e esse crescimento pode ser avaliado em função da variação do PIB ao longo dos anos. Compare nos gráficos:




Finalmente, existem ainda indicadores importantes de atividade econômica, como indicadores de confiança, de clima, de otimismo, que tentam antecipar o que irá acontecer na economia com as Sondagens e Índices de Confiança da FGV e os PMI's, muito utilizados por investidores. Também existem indicadores de levantamentos já realizados por institutos de pesquisa. Alguns exemplos são o PMC, pesquisa mensal do comércio; PIM, pesquisa industrial mensal; IBC-BR, índice de atividade econômica do Banco Central, conhecido como prévia do PIB; e os Índices de desemprego.

Quando a economia está aquecida, os agentes estão gastando, e existe demanda por mão de obra. Assim, o desemprego diminui. Em contrapartida, a alta demanda por produtos e serviços faz as empresas aumentarem a oferta num primeiro momento, mas em seguida ocorre um aumento generalizado dos preços seguindo a Lei da Oferta x Demanda. Assim, surge a inflação.

INFLAÇÃO

A inflação é o aumento generalizado e contínuo dos preços. Quando existe uma desaceleração da inflação, temos a desinflação. E quando ocorre queda dos preços temos a deflação, um índice negativo de inflação. Existem três grandes causas de inflação:

● Nível de atividade econômica: conforme explicado anteriormente, uma economia aquecida pode gerar inflação devido à pressão por aumento de preços e salários. Esta é a principal causa de inflação, e o baixo nível de atividade econômica ajuda a controlá-la quando outras causas estão presentes;

● Desvalorização cambial: preços de produtos transacionáveis, exportados e importados, sobem com a desvalorização da moeda. Os preços podem ainda ser repassados para produtos não transacionáveis. Por outro lado, apreciações cambiais ajudam a controlar a inflação;

● Choques negativos de oferta: pouca oferta de produtos e serviços tendem a causar inflação. O exemplo mais importante é o do combustível, quando temos choque de oferta de petróleo. Choques positivos de oferta ocorreram no Brasil em 2017 e 2018, quando a supersafra e boas condições climáticas ajudaram a controlar a inflação.

Nosso passado inflacionário, com economia indexada, nos deixou medidas muito precisas de inflação. São índices que calculam a variação dos preços de uma determinada cesta de produtos ou serviços. Temos índices de preços ao consumidor, por exemplo, que são percebidos pelas famílias Dentre os mais importantes temos IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, IBGE), INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor voltado para as famílias de baixa renda, IBGE), e IPC: Índice de Preços ao Consumidor, FGV.

Temos também índices de preços percebidos pelos empresários e produtores, como IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo, FGV), IPP (Índice de Preços ao Produtor, IBGE) e IC-BR (Índice de Commodities, Banco Central). A FGV divulga também o Índice Geral de Preços, IGP, que combina 60% do IPA, 30% do IPC e 10% do INCC (Índice de Preços da Construção Civil).


DESEMPREGO

É a variável econômica cujas consequências a sociedade mais sente. O desemprego tem um custo social altíssimo, por isso exige atenção dos responsáveis pela formulação da política econômica. Existe uma relação direta e não proporcional entre crescimento da economia e geração de emprego.

TAXA DE JUROS COMO ÍNDICE FINANCEIRO

A taxa de juros mais conhecida no Brasil é aquela apurada no SELIC (Sistema Especial de Liquidação e Custódia) conhecida como taxa SELIC. É a média ponderada dos financiamentos por um dia, lastreada em títulos públicos federais. Serve de referência para a política monetária do país, servindo como referência para outras taxas. É o principal instrumento do Banco Central para controlar a inflação, através do regime de metas de inflação. É definida pelo COPOM, Comitê de Política Monetária, a cada 45 dias.


Existem outras taxas muito conhecidas, dentre elas a CDI (Certificado de Depósitos Interbancários), ou taxa DI, que se origina de títulos emitidos por instituições financeiras no mercado interbancário, e a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), criada com o objetivo de regulamentar e estimular investimentos de longo prazo em infraestrutura e consumo.

TAXA DE CÂMBIO

É a relação entre os valores de duas moedas, sendo um método de comparação. Sua determinação depende do regime cambial. Existem medidas de câmbio de equilíbrio para sabermos se está caro ou barato, e assim, concluir se existe tendência de alta ou baixa. Como exemplos práticos, podemos analisar o Big Mac Index (que indica paridade do poder de compra através de um produto relativamente padronizado no mundo todo, o hambúrguer da famosa rede multinacional de fast food) ou a situação das transações correntes sobre o PIB.

ATUAÇÃO DO GOVERNO NA ECONOMIA

A política econômica do governo pode ser dividida em três principais eixos: monetária, fiscal e cambial. A política monetária é executada pelo Banco Central, com o objetivo de controlar a oferta de moeda e de crédito, adequando os meios de pagamento às necessidades econômicas do país. Pode ser expansiva, quando aumenta a oferta de moeda e crédito estimulando a economia, ou restritiva, diminuindo a oferta de moeda e de crédito. O Banco Central utiliza de diversos instrumentos para fazer a sua política monetária, e isso pode acontecer através da variação na taxa básica de juros (SELIC); pela operação no mercado aberto, comprando ou vendendo títulos do governo brasileiro; através de políticas de redesconto ou através das reservas compulsórias dos bancos comerciais.

Por sua vez, a política fiscal está relacionada com as ações do governo que envolvem a arrecadação de impostos e gastos públicos. Ela também pode ser expansiva, quando o governo estimula a economia através da redução de impostos ou aumento dos gastos; ou restritiva, quando o governo aumenta impostos ou reduz os gastos. Daí surgem os conceitos de superávit primário ou déficit primário, que é a diferença entre as receitas e despesas do governo, e superávit nominal ou déficit nominal, que inclui no resultado primário os gastos com juros da dívida pública.

Já na política cambial, o governo define o regime cambial, que pode ser flutuante, onde quem define o câmbio é o mercado através da oferta e demanda da moeda estrangeira; ou fixo, quando o governo define a taxa de câmbio e precisa comprar e vender a moeda estrangeira conforme demanda o mercado. Na prática, o que vemos nos países é uma flutuação administrada, onde a taxa é definida pelo mercado, mas com o governo fazendo intervenções pontuais. Em geral o governo trabalha com um mix de políticas econômicas, e são várias as abordagens possíveis para as políticas monetária, fiscal e cambial, com objetivo expansionista ou contracionista.


Finalmente, gostaríamos de ressaltar que a economia não é uma ciência exata, mas uma ciência social. Ela busca entender o comportamento racional do homem, e aponta como ele deve alocar os recursos escassos. Assim sendo, está sujeita, como vimos, a uma multiplicidade de fatores e suas combinações. Informação e rigor de dados são essenciais para trilhar com segurança essa jornada, mas uma pitada de intuição e, porque não, de humanidade, poderão fazer dela uma aventura bem mais interessante.


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Marcelo Milagres é farmacêutico-bioquímico pela Universidade Federal de Ouro Preto. MBA em Gestão Empresarial e especializando em Mercado Financeiro e de Capitais. É sócio-proprietário do Laboratório Rocha Milagres. É diretor assistente da Central ACB - Análises Clínicas Brasil. Integra a 4ª Comissão de Ética do Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais.

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